Autor: Movimento dos Atingidos por Barragens
Hoje é dia de sermos: Nós mulheres. O feminismo nos ensina a sair dar amarras do cotidiano, rasgar os papéis sociais, abandonar competição, reinventar-se... pixar, reescrever, glosar, redesenhar, construir a história, rompendo com a linearidade do tempo.
Reajustar-se com a vida no fluxo espiral, tal qual o caracol observando sua concha. Nosso movimento, nos ensina, a força da coletividade, de como o grito das mulheres treme o mundo... E Fora Cunha!! Fora Bolsonaro!! O eco já não tem mais fim, somos muitas, e não andaremos mais só. Nos unindo, na cadência do ritmo de cada corpo, na beleza de toda a diversidade e diferença, vamos mudando nossas relações, nossa organização, nossa pátria, o mundo.
O fogo vem da força das mulheres do sul, do Baixo Iguaçu, que enfrentam as enchentes, das velhas contadoras de histórias, do tipo Claides, vem das guerreiras do Norte, de uma Rondônia ameaçada, dos banhos do Xingu, vem da poesia doce juvenil que brota da linda flor do semiárido, do cordel dos vale do São Francisco, da resistência do Rio Doce.
A todas nós que nos construímos no movimento popular, que rompemos as correntes do patriarcado. Mulheres de vidas rasgadas, soterradas por lama, recortadas por barragens, corpos marcados pelo machismo, nos levantamos todos os dias. Tomamos esses retalhos e fragmentos e refazemos nossa história com fio, bordado, costura, na beleza da tela-denúncia de uma Arpillera, nossa poética manifesto, nossa dialética, nosso jeitinho latinoamericana de “cambiar las cosas”, de afirmar nosso SER “Outras” ocultadas. Atingidas, não vítimas, sujeitas de um projeto político emancipatório.
Não perdoaremos o capital por tanta exploração, não faltaremos umas as outras, marcharemos hoje contra o neoliberalismo, por uma pátria livre, feminista e solidária! Se nos foram dados viver esses tristes dias sem sol, trabalhemos com a força da lua, relembremos as raízes da terra, encontremos forças em nossos sonhos.