Autor: Rui Daher
Fonte: https://www.cartacapital.com.br/economia/a-agricultura-familiar-esta-sob...
Caminhamos da burrice à sacanagem informativa, e os oligopólios-patrocinadores ganham força
Dou um tempo nas colunas citando as ameaças internas e externas a cada dia mais próximas dos alegres produtores de grãos. Pensaram que o golpe faria melhorar a economia, e ó. Não quero praguejar o setor com que trabalho e acho o mais evidente sustento do País. Aos níveis menos acariciados, como a agricultura familiar, opinei que iria piorar com a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário e a redução de recursos.
A agropecuária chia contra o atrelamento das taxas de juros do crédito rural à Selic e pede para que o governo alivie a cobrança do Funrural, cerca de 80 bilhões de reais devidos ao erário público.
Embora comum depois da colheita, caem significativamente os preços da soja e também do milho ainda a colher.
Seria indelicado perguntar há quantos meses escrevi isso?
Não deixo de lado o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha (ou deixo? Nunca me sentaria à mesa para jantar com senhor tão lesivo ao País). Ele pretende liberar a venda indiscriminada de terras a estrangeiros.
Senhores agropecuaristas, essas terras são suas, mas estão no País. Já as tive, hoje não as tenho mais. De que adiantaria, então, escrever sobre futuro, soberania e riqueza se vocês pouco ligam para isso? Melhor um “Cê que Sabe”, denominação comum a motéis Brasil afora.
“Sustainable”
É um documentário de Matt Wechsler e Annie Speicher, EUA, 2016. Tem no YouTube. Quem o indica é a leitora de meu blog no GGN, Cristiane Vieira, junto a comentário importante sobre texto criticando a Operação Carne Fraca.
Exímia percepção com a lupa, ela aponta:
“Um dos entraves para o desenvolvimento sustentável no campo, no Brasil e no mundo, é, também, a falta de informação do público em geral sobre o que acontece nessa região, o que favorece a ação latifundiária e financista dos ruralistas e que a discussão sobre os rumos da política agrário-agrícola e seus impactos social e econômico fique restrita a especialistas ou interessados”.
A verdade, Cristiane, é que na Federação de Corporações pouca bola se dá à complementaridade da produção agrária e ao resultado nos alimentos e fibras que chegam aos consumidores.
Deveria haver aí uma ação integrada que partisse das mais variadas formas de cultivos e manejos vegetais ou animais, sem a conotação mecanicista atual. É fundamental estender a discussão entre caboclos, campesinos, sertanejos e ruralistas à população em geral que não apenas consome suas produções, mas também a qualidade delas.
Essas interações sociais compreendem os agentes produtores, mercantis e prestadores de serviços em suas política e economia rurais, passando por ações e aceitações para preservação ambiental, proteção da biodiversidade e recomposição do valor do trabalho no campo.
Isso sim seria Sustainable.
Volto ao texto de Cristiane:
“Sinto falta de acesso (...) sobre nossa realidade e o que as pessoas do MST, da Embrapa, das faculdades públicas de agronomia e ciências da terra e ambientais, os agricultores familiares, as cooperativas, andam produzindo como realidade e retrato em documentários ou registros diversos (...) entender por que se retirou a versão diária matutina do outrora excelente programa apesar do nome autorreferente, Globo Rural, e lançou campanhas de popularização do agronegócio em horários nobres? Ou por que o IBGE resolveu cortar exatamente as questões que tratam da agricultura familiar no polêmico Censo Agropecuário 2017”.
Posso responder? Pois é, caminhamos da burrice à sacanagem informativa. Grande parte da economia mundial está se estabelecendo em oligopólios-patrocinadores. Trata-se de um “viver da fé, só não se sabe fé em quê”, espalhado pelas folhas e telas cotidianas dedicadas a noticiarem desastres pontuais, sem perceberem a que ponto chegamos no esgarçamento do tecido social e de seus aparelhos de proteção ambiental em países hegemônicos ou não.
Mais de Cristiane:
“(...) O futuro depende do campo, das florestas, dos sistemas naturais de produção e conservação, para sobrevivência e geração de emprego e renda, e se nós que estamos exilados nas regiões urbanas não formos educados e informados para esta realidade, continuaremos reféns dos que transformam e reduzem a vida, literalmente, a negócios para poucos”.
Eu assino embaixo. Vocês não?