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A viabilidade e sustentabilidade dos sistemas modernos de protecção social, em países subdesenvolvidos como Moçambique, são geralmente avaliadas em torno dos mecanismos financeiros, como se a segurança humana da maioria da população dependesse principalmente da robustez, eficácia e eficiência dos sistemas económico-financeiros. Porém, quando se presta a devida atenção à demografia da população moçambicana, verifica-se que os factores e mecanismos demográficos jogam um papel muito mais determinante do que a literatura contemporânea sobre protecção social tem reconhecido; um papel socialmente mais relevante do que o de mero contexto ou variável exógena à dinâmica económica e social do país.
Esta ideia tem sido elaborada e aprofundada, em diferentes trabalhos recentes do autor deste trabalho, mas nenhum deles fornece o panorama extensivo apresentado nesta edição nº 6 do “Cadernos IESE”. O artigo apresenta um panorama sistemático da demografia de Moçambique, inserido na teoria e modelos modernos da transição demográfica. Mostra que Moçambique está a viver uma importante ruptura com o regime demográfico antigo, caracterizado por elevadas taxas de mortalidade e de natalidade, baixo nível de esperança de vida, estrutura etária muito jovem e crescimento populacional moderado.
Ao rever a evolução demográfica moçambicana percebe-se que a ruptura com o regime demográfico antigo iniciou, na primeira metade do Século XX, apenas ao nível da mortalidade. O mesmo não aconteceu com a transição da fecundidade, a qual iniciou em algumas regiões, mas ainda não se generalizou de forma sustentável a todo o país. Sempre que oportuno, ao longo do trabalho, a dinâmica populacional moçambicana é comparada com a dos países da região da África Subsariana e do mundo em geral.